Você está se preparando para ser competitivo em 2050?

25/11/2019 10H08

O mercado de trabalho está passando por um maremoto de proporções bíblicas. Nas próximas décadas veremos a ascensão de novas tecnologias, como blockchain, inteligência artificial, biotecnologia e energias alternativas. E isso vai mudar tudo. Carreiras como detetive de dados, gerente de negociações éticas e curador de memória pessoal vão surgir, além de outras que ainda nem imaginamos, e se juntar a um grupo de novíssimas, como professor de bots.

Estamos prontos para esta nova realidade? Como sobreviver num mercado em constante transformação pautado pela economia da inovação? Que habilidades precisaremos aprender para garantir nosso lugar ao sol daqui a 30 anos, em 2050?

Relatório recente da IBM afirma que ao menos 7 milhões de brasileiros vão precisar de recapacitação profissional nos próximos três anos. E um estudo feito com 4,8 mil CEOs em 48 países chegou a conclusões surpreendentes. Apenas 41% afirmam dispor do pessoal necessário para executar estratégias de negócios já definidas e metade deles não possui sequer um plano estruturado para reverter tal cenário. Pensando no Brasil, onde há 13 milhões de desempregados, a existência de vagas sem preencher por falta de qualificação é uma tragédia.

Em entrevista concedida há poucos dias aqui no Brasil, o historiador israelense Yuval Noah Harari falou um pouco sobre o impacto das tecnologias disruptivas no mercado de trabalho. Para ele, como as mudanças eram mais lentas antes, nós sabíamos exatamente o que ensinar à geração seguinte.

“Agora, pela primeira vez na história, não temos ideia que tipos de habilidades os profissionais precisarão ter em 2040 ou 2050”, explica. “O que sabemos é que elas vão precisar continuar aprendendo ao longo da vida.”

Esse alerta é muito importante para o profissional de hoje, sobretudo o que já está atuante no mercado. Antes, esperávamos conhecimento de tecnologia do funcionário de TI. Os currículos traziam “informática” e “inglês fluente” como habilidades extras desejáveis.

Isso não é mais suficiente.

Quem não está antenado com as tecnologias pertinentes ao seu mercado, estará em franca desvantagem. E, como diz Harari, não é só sair da faculdade sabendo. Vai ser necessário se manter flexível ao longo de toda vida profissional para desaprender e aprender de novo. Reciclar, atualizar, evoluir serão termos cada vez mais presentes no cotidiano do trabalho.

Os jovens podem achar que levam grande vantagem por já terem nascido num ambiente em que a convivência com a tecnologia é um processo natural. No entanto, ser um nativo digital também não é receita certa de sucesso. Nos últimos cinco anos, o tempo para capacitar um funcionário para uma nova tarefa aumentou dez vezes. Eram necessários cerca de 4 dias em 2014. Hoje, são precisos 40.

As empresas acordaram para o fato de que precisam fazer sua parte. Pesquisa da consultoria de gestão de pessoas ManpowerGroup concluiu que elas estão se transformando em “formadoras de talento”. Foram entrevistados mais de 19 mil empregadores em 44 países e 84% deles esperam melhorar a qualificação da força de trabalho até 2020. No Brasil, pasmem, o percentual vai a 92%! 

Os governos também têm atuado. Cingapura dá ao cidadão uma quantia em dinheiro para investir livremente em educação. Oito em cada dez disseram ter sentido impacto positivo no trabalho. A França optou por dar aos empreendedores um crédito fiscal correspondente ao número de horas do treinamento de seus colaboradores multiplicado pelo salário mínimo.

Mas e o nosso sistema educacional? Está preparado para desenvolver as novas competências nos futuros profissionais?

A diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da FGV, Cláudia Costin, avalia essa questão olhando os resultados do Pisa, o levantamento organizado pela OCDE que mede as competências que jovens precisam ter para uma vida adulta plena.

Ela chama atenção para a necessidade de tornar a carreira docente mais atrativa, enfatizando uma formação profissional mais vinculada à prática, sendo mais rigoroso na seleção de professores e fazendo um bom alinhamento dos materiais curriculares.

Mas essas novas abordagens de formação profissional e educacional não abolem necessariamente as práticas já conhecidas. A vivência universitária ainda é importante pelo relacionamento com outras pessoas, o aprendizado do trabalho em equipe, a imposição de desafios e a resiliência para vencer em cursos mais intensos.

A tecnologia e o digital ampliam o alcance do que já existe e fornecem base para novos saltos. Se antes ter um diploma universitário era garantia de um bom emprego, hoje o conhecimento está disperso em muitas plataformas: desde ler um bom livro, fazer um curso de curta duração ou assistir conteúdos gratuitos online.

Os professores passarão a ser mediadores do processo de aprendizagem. Mais do que serem fontes do conhecimento a ser transmitido, vão ensinar como aprender ao longo da vida, o que alguns chamam de “flexibilidade cognitiva” ou metacognição, conforme define Carlos Souza, diretor na América Latina da Udacity, a Universidade do Vale do Silício.

Se estamos falando em flexibilidade, logicamente tomar decisões de forma assertiva tem muito valor, assim como mostrar independência, ter postura proativa e desenvolver visão estratégica. Artigo na Harvard Business Review lista essas habilidades como decisivas para gestores no mundo VUCA (acrônimo criado no inglês para volatile, uncertain, complex e ambiguous).

Um ambiente como este exige pessoas criativas e com pensamento crítico. Estamos entrando numa era que vai ser dominada por algoritmos e aprendizado de máquina (machine learning): saber interpretar e utilizar de forma estratégica um volume extraordinário de dados são virtudes que precisam fazer parte do arsenal de competências de um profissional desafiado todos os dias pela inovação.

Ter habilidades como as citadas pode dar a impressão de que a hierarquia continuará sendo um imperativo, mas isso me parece cada dia menos provável. A configuração moderna será por projetos ao invés de departamentos, cada um com seu especialista e mandachuva.

Os times devem ser mais ágeis e o líder tem de saber ouvir as contribuições dos demais integrantes para tomar a decisão de forma mais rápida e assertiva, já que, afinal, não conseguirá dominar tudo sobre todos os assuntos pertinentes a um determinado negócio.

Para Amin Toufani, CEO da T-Labs, empresa de inteligência artificial e blockchain com sede na Califórnia, e professor de finanças na Singularity University, uma das mais respeitadas do Vale do Silício, os CEOs precisam desistir do controle se quiserem criar para suas equipes um ambiente em que as pessoas se sintam seguras para desaprenderem e se comportarem da forma adaptável que estamos falando. Toufani diz considerar seus funcionários como colegas, não subordinados.

“Isso significa que tenho um voto, não um veto. Eu posso ser demitido. Não de minha empresa, mas de um projeto dentro da companhia. E esse é o nível de empoderamento que acho necessário para trazer o melhor das pessoas”, defende. “Eu quero que os profissionais estejam atentos às mudanças. Mas também quero que percebam que vivemos no período mais incrível da história humana e que eles podem criar e exceder as próprias expectativas.”

O filósofo Mário Sérgio Cortella faz um resumo interessante daquilo que considera os melhores atributos para uma liderança moderna:

1)   Abrir a mente: o líder não envelhece a forma de pensar;

2)   Elevar a equipe: reconhecer que um líder é incapaz de saber tudo, como nos lembra Amin Toufani;

3)   Inovar a obra: a capacidade de adaptação da qual falamos, a de reinventar o modo de fazer as coisas;

4)   Recrear o espírito: entender que seriedade é possível num ambiente de trabalho sem que as pessoas precisem estar em pânico ou tristes. Ao contrário, é fazer com que desempenhem suas funções com alegria;

5)   Empreender o futuro: num mundo volátil é preciso ter a capacidade estratégica de ver adiante, de se antecipar, de procurar soluções;

6)   Líder é alguém que inspira, não quem manda; ele sabe que a liderança é uma situação circunstancial;

7)   Liderança está ligada à experiência: não confundir com idade, afinal é possível uma pessoa atuar há mais tempo em alguma coisa sem ter a mesma intensidade da prática de outra com menos idade.

Para fechar, recomendo esse webinar apresentado por Jacqueline Carter, da consultoria Potential Project com o título “A mente do líder”. Ela é uma especialista em introduzir práticas de mindfulness na vida corporativa e aborda um tema que está subjacente a tudo o que abordamos aqui: competências emocionais também são importantes para o líder do futuro.

E você? Quais habilidades já está desenvolvendo e planeja aprimorar para continuar sua trajetória de sucesso na economia da inovação?

Por Marcelo de Sá, Diretor de Controladoria do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger Kloster, das marcas de vodka Nordka e Blue Spirit Ice, do refrigerante it!, dos energéticos TNT e MAGNETO, do isotônico IRONAGE e da água mineral Petra.

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