Quanto vale ou é por quilo?
A pergunta desta coluna se refere a um grande filme dirigido por Sergio Bianchi (2005), no qual é tratada a atualidade da estrutura escravocrata na sociedade contemporânea. Lembro desta pergunta porque acaba de sair o Mapa da Violência de 2019, produzido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no qual, entre tantos outros dados, são levantadas as relações entre raça e violência no Brasil contemporâneo. Estas reflexões aprofundam o que trouxemos na #3 Coluna Livre, sobre a Lava jato. Vamos a alguns dados.
Para começar com o ponto mais sensível: 66% das mulheres assassinadas no Brasil em 2017 eram negras. Do total de homicídios entre homens e mulheres 75,5% foram pessoas negras. Isso significa um crescimento de 33% no período de 2007 a 2017, enquanto que para as pessoas brancas ou outras não negras o crescimento foi de apenas 3,3%. Foi um crescimento de 7,2% apenas no último ano investigado (2016-2017). No Paraná o índice de homicídios de pessoas negras é de 19 para cada mil, redução de 11,9% na década de 2007-2017. Somos o único Estado em que os homicídios de negros é menor que o de brancos. Isso pode ser resultado de que no Paraná mais de 70% da população é branca, e, claro, isso só poderia resultar em uma diferença nos números da violência (7,59 milhões de brancos e 372 mil negros no Paraná).
Mas o que significa isso? Foram mais de 300 anos de escravidão no país, e só pouco mais de 130 anos de “liberdade”, conquistada a duras penas e, após conquistada, o nosso país não concedeu nenhuma dignidade a aquelas pessoas que de verdade produziram a riqueza social, tão concentrada em poucas mãos. Mal saíram das fazendas ou das casas de seus senhores como “cidadãos livres”, quais eram as opções existentes para a população negra? Como concorrer no mercado de trabalho com os imigrantes brancos que passaram a invadir o Brasil a partir do mesmo período da libertação dos escravos negros? Havia justiça ou “mérito” possível nesta concorrência? Obviamente que não.
A classificação social pela cor da pele foi uma invenção ocorrida na América, pelo sistema de escravidão aqui implementado pelos espanhóis, ingleses e portugueses. A partir deste sistema toda sociedade acabou sendo dividida, e os resultados sociais para a população negra se revelam em números como os demonstrados anteriormente, e muitos outros. Só para lembrar: a renda mensal das pessoas negras é de R$ 1.012,76 enquanto das pessoas brancas é de R$ 1.780,6.
De fato este sistema de injustiça social gera com o tempo uma situação de desigualdade abissal, intransponível em poucos anos ou poucas gerações. E é por isso que surgem iniciativas de políticas sociais chamadas de “afirmativas”, dado seu caráter de correção deste cenário historicamente construído pelo sistema colonial atualizado.
Mas, pergunta o nobre leitor ou a nobre leitora: por que estas coisas não aparecem na televisão? Nunca aparecerá, já que o papel fundamental dos meios de comunicação empresariais é mesmo colocar entre você e a verdade histórica todo tipo de nuvem.
Não espere. Vá atrás das informações corretas, seja crítico, dê um basta ao senso comum.
Caro e cara, deixo aqui um abraço!
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