O ícone fashion de cada tempo: cada um com a diva que merece.

* Por Expressiva Modas

19/05/2022 16H38

Que a moda é cíclica e, de tempos em tempos, as tendências voltam a circular nas ruas e nas passarelas, já vimos aqui nessa coluna. Que a moda é espelho de seu tempo e reflexo do contemporâneo, também já foi um assunto previamente discutido e aqui apresentado. Agora, que a moda tem rostos e ícones, não; podemos até saber disso a grosso modo, lembrar de influências marcantes de estilos e referências de moda que todo mundo conhece de senso comum, mas há muito mais por trás disso do que parece e vemos, e conhecemos só a ponta do iceberg. Na verdade, esses rostos e referências são muito mais importantes e memoráveis do que parece.

Principalmente na moda feminina lembramos de diversos ícones que marcaram uma geração e um tempo, que vestiram e fizeram aquela moda acontecer, se popularizar, como Coco Chanel e as calças, pérolas, tailleurs, Tweed e o Chanel n° 5. É inegável o poder e a influência da estilista a partir da década de 1920 e o quanto ela foi marcada e definida por Chanel; é muito difícil dissociar a década melindrosa das influências de uma das estilistas mais importantes de todos os tempos. Assim como lembramos e associamos claramente as tendências da década de 1960 como a minissaia, o couro, a rebeldia e a juventude tão marcantes de Mary Quant e Vivienne Westwood, duas gigantes da subversão e que ditaram o que seria usado e seguido em seu tempo.

Mas, ainda mais importante do que estilistas ditarem tendência, é quem as usa e imortaliza. Que atire a primeira pedra quem nunca lembrou do chapéu de frutas e dos vestidos franjados de Carmem Miranda que foram replicados e reverenciados nos anos 1940. A brasileira era amada nas terras do Tio Sam, foi ícone fashion, de brasilidade, referência de música, rádio e estilo, aclamada como artista e referência de moda e comportamento. Na década de 1950 nós temos a absoluta elegância de Audrey Hepburn; a musa da Givanchy imortalizou o colar de pérolas, o tubinho preto, óculos de sol maximalistas, a elegância da simplicidade, sapatilhas, calças de alfaiataria e o cabelo curtinho. Hepburn ressignificou os parâmetros de feminilidade e se tornou referência de sofisticação, dando vida às personagens mais fashionistas da década de ouro do cinema.

A dualidade dessa década era marcada pela outra face das divas do cinema: se de um lado tínhamos o ícone de elegância, magreza e simplicidade que era Audrey Hepburn, nas outra ponta tínhamos a imponência e o sex appeal de Marylin Monroe, o ícone do cabelo platinado, dos diamantes, dos vestidos brancos, do corpo curvilíneo e do batom vermelho. Responsável por imortalizar grandes produções de moda – dentro e fora das telas do cinema – como o tomara que caia rosa de Travilla (que, inclusive, foi responsável pelos figurinos mais icônicos da loira mais famosa do cinema), referência pop até os dias de hoje, e o vestido coberto de cristais que Monroe usou para cantar “happy birthday to you” ao presidente John F. Kennedy em 1962, desenhado especialmente para ela e costurado em seu corpo para que ficasse perfeitamente ajustado. Recentemente, no Met Gala 2022, Kim Kardashian usou uma réplica do modelo e polemizou, dividindo opiniões ao usar um vestido histórico de 80 anos e referenciando a diva dos anos 1950. Ora, isso nos mostra duas coisas; a primeira é a reafirmação da moda cíclica, quando voltamos para tendências passadas para usarmos como referência (ou como Kim fez aqui, literalmente reusando-a) e a segunda é que Marilyn Monroe foi e continua sendo uma diva e ícone fashion.

Figuras públicas costumam ser observadas e copiadas, geralmente atrizes, modelos, celebridades. Mas nas décadas de 1980 e 1990, tivemos uma figura da realeza sendo parâmetro absoluto de moda e tendência, a amada e polêmica Lady Diana. A princesa de Gales que usava calça caqui, ternos de tweed da Chanel, que foi traída e quebrou regras da coroa britânica usando vestidos curtos e sem mangas, ou então o imortal vestido da vingança – a peça maravilhosa de Stanbollian, um vestido decotado e preto usado em um evento oficial quando a cor e o modelo eram proibidos. Lady Di, como é popularmente conhecida, foi uma figura emblemática, lembrada como a princesa dos pobres e que se vestia de acordo com seu espírito: livre, rebelde e ousada. Hoje, Kate Middleton, esposa do príncipe Harry, filho mais velho de Diana, ocupa esse lugar de ser lembrada pelo estilo e pela elegância, mas de uma maneira muito menos polêmica e mais de acordo com as regras da realeza.

Na contemporaneidade eu diria que estamos carentes de ícones fashion; não temos uma diva que marcou um estilo, uma peça, imortalizou um look. Em um mundo de influencers, instagram e da moda efêmera, é difícil ter um rosto que marque uma década, uma tendência. Muitos apontam a própria Kim Kardahsian como uma direção do estilo atual, mas cá entre nós, eu discordo. Kim é uma socialite polêmica, uma fashionista que mais erra do que acerta (ainda mais agora que seu casamento com Kanye West acabou e ela perdeu sua principal referência de moda). Claro, as curvas marcantes, o uso de tons nudes e de bandagem marcaram o início dos anos 2010, mas para assumir o papel de diva, de ícone, a musa precisa de um fator chave que lhe falta e lhe faz tropeçar. A elegância. O seu “clã Kardashian” é conhecido pela ousadia e pelo padrão de perfeição, mas nenhuma delas realmente acrescentou à história da moda algo que possa ser lembrado e replicado; elas são referência de sucesso e empreendedorismo, mas não possuem o carisma das mulheres que aqui citamos.

Então, encerramos com uma reflexão: será mesmo que a moda é tão fugaz e volátil a ponto de não conseguirmos estabelecer nossos próprios ícones? Ou então os padrões são tão incorporados que não há mais espaço para a subversão do ícone fashion, não há mais a preocupação em ser autêntica e marcante a ponto de ser lembrada e celebrada? Só produzimos mais do mesmo e consumimos mais do mesmo. Bom, o fato é que a moda é uma constante evolução de processos, tendências e escolhas, e se ela é reflexo do contemporâneo, que sociedade tão banal que estamos vivendo? Porque estamos escolhendo um padrão? Talvez seja hora de romper nossa bolha fashion e olhar para a autencidade e para o novo.

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