Mulheres, cabelos, vestidos...

* Por Mauro Biazi

02/08/2024 13H29

* Por Mauro Biazi

Guarapuava tem em seu vento de agosto, e no vento de quase todos os outros meses, uma característica que, estudo feito, o aponta como desequilibrador de mentes. Tal estudo afirma que o vento o tempo todo despenteando cabelos, desabotoando roupas, anuviando os olhos, esbagaçando guarda-chuvas e sombrinhas, causa desorientação em algumas pessoas o que as levam a um processo de desbalanceamento mental, resumindo, o vento de Guarapuava endoidece pessoas, no popular: enlouquece. Escrevo isso pra lembrar das mulheres e laquês, aquele liquido em jatos sobre as madeixas que os tornavam sólidos, duros, resistentes ao vento de agosto e aos ventos do ano inteiro.

Todos os institutos de beleza, esse o nome dado à época ao espaço que tratava das mulheres dos pés à cabeça, obrigatoriamente jateavam os cabelos delas nos finalmente de qualquer penteado. Dos ditos salões me vem a lembrança o antológico da Walkiria, o da minha madrasta Geni, o que a Zélia abriu no então luxuoso Hotel Atalaia, todos eles preparavam as guarapuavanas para os eventos chiques da cidade. E como cada época tem um estilo o daquele tempo era um topete que aumentava em alguns centímetros a estatura delas. Era engraçado homens prejudicados no tamanho solicitar uma dança à uma moça e tão logo ela se levantava da cadeira o camarada constrangido perceber a gritante diferença. Uma música apenas e o infeliz devolvia seu par à mesa na maior desfaçatez. Lembro de um amigo que levava palmilhas sobressalentes aos bailes e nunca passou vergonha... e não perdia uma contradança. Uma amiga num baile, irritada de não ser tirada para bailar, por conta da altura exagerada do seu topete, não teve dúvida: foi até o toalete e retornou com a sua altura natural depois de desfazer o volume superior à base de tapas e puxões na armação de laquê.

Depois, gargalhando ela me disse, perdi tempo e cinquentão no salão de beleza, mas agora vou dançar até não poder mais. Outro item em qualquer festa era a indumentária, claro, a feminina, o que demandava tempo para a costureira aprontar e, chegando o dia, o nervosismo se instalava em cada festeira. Relato então um fato ocorrido entre duas guarapuavanas amigas que, por uma dessas coincidências que causam atritos sérios no quesito vaidade, compareceram a um evento rigorosamente iguais, sem pôr nem tirar. Frente a frente com seus modelitos iguaizinhos, uma delas perguntou educadamente a outra: "Puxa, que vestido bonito. Onde você mandou fazer?" E a outra, mais grossa que um pinheiro de 300 anos, respondeu: "Com certeza não foi onde você mandou fazer essa porcaria que está vestindo" E Guarapuava assistiu uma amizade de anos chegando ao fim.

Guarapuava, ainda tenho muitas lembranças de ti.

(Outras centenas de crônicas como esta no livro Era uma vez...em Guarapuava. Preço: 50,00)

Mauro Biazi

Mauro Xavier Biazi, jornalista/escritor/fotógrafo/promotor de eventos culturais/ gastronômicos, e uma infinidade de outras atividades, usa das palavras para rascunhar recortes de uma vida de tantos feitos e fatos.

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