Inveja

13/11/2019 19H20

Inveja é desgostar-se com ódio da boa fortuna ou benção de outra pessoa. É o pecado (Gálatas 5:21) que causa amargura diante da visão de outra pessoa possuindo o que o invejoso não tem e gostaria de ter e ser; e, faria de tudo quanto possível e impossível, não tanto para possuir a coisa ou ser o que a outra pessoa é, mas para evitar que a outra pessoa a possua ou seja. O invejoso se irrita com maledicência somente com o sucesso, prosperidade, virtude, boa reputação e crescimento dos seus pares; e fará de tudo para acabar com o que é bom no outro. Enfim, na inveja há uma subliminar confissão rancorosa da própria impotência e fracasso e o anseio amargo de destruir o que é desejável no outro. O pior é que o invejoso traz mais prejuízo a si mesmo, pois “o coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos”. (Provérbios 14:30). Pior ainda é que o invejoso não se revela a ninguém; e, por isso, raramente confessa ser um. Sendo assim, há tanta gente invejosa que não sabe que é ou não se revela como tal e não é tratada porque não pede ajuda.

A comparação é a porta aberta para a guerra entre os pares que pode gerar orgulho para o vencedor ou culpa no perdedor. E é no coração dos derrotados que é mais fácil nascer a inveja, porque o perdedor reconhece sua limitação, inferioridade e impossibilidade de chegar à vitória; assim, deseja que aquele que o venceu também seja rebaixado. Com isso, o invejoso passa a viver em prol de lutar contra o próximo. Todo o seu esforço se resume em planejar e executar atitudes para destruir seu semelhante. O invejoso torna-se especialista na arte maligna de enxergar com pessimismo a vida. Ele se expressa sempre com murmuração, ingratidão, depreciação, maledicência, calúnia, fofoca, difamação e injúria para destruir a pessoa ou o bem que é alvo da sua inveja. Por isso que onde "...há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins". (Tiago 3:16)

Além disso, há outra mazela emocional e existencial dentro do invejoso: a frustração de viver. Toda noite antes de dormir, há uma sensação de vazio, fracasso e profunda tristeza ao olhar a vida no retrovisor e perceber que não tem o que é desejável nos outros ou não é igual aos seus pares bem sucedidos. Enquanto lembra-se de que há sortudos desleixados, há um inflamável sentimento de injustiça torturando a mente, por não ser também premiado pela vida com o sucesso, mesmo depois de tanto sacrifício. Enquanto isso, o invejoso segue sofrendo calado e incurável, agonizando com o seu próprio veneno ruminado dia após dia, comparação após comparação.

Mas, como vencer a inveja? Eis três sugestões:

(1) Celebre o mistério da vida. Tudo o que somos é graça de Deus. Pense bem: Se plantamos pecados contra Deus, deveríamos colher, merecidamente todos os dias, castigos. Mas o impressionante é que isso não acontece. Sabe o motivo? Por que Jesus recebeu o castigo de Deus no nosso lugar por causa de nossos pecados para que possamos viver imerecidamente Nele. A morte sacrificial de Jesus na cruz é a prova de que Deus é justo, ele não é cúmplice e patrocinador dos pecadores; mas, também Deus é amor (I João 4:8 e 16), ele envia seu único filho para morrer a nossa morte, afim de que tenhamos vida eterna (João 3:16). Sendo assim, o Soberano Senhor e Salvador de nossas vidas tem o direito de administrar nosso percurso e escrever a nossa história distribuindo dons, riquezas, bens, talentos, oportunidades, privilégios segundo sua “boa, perfeita e agradável” vontade (Rm 12:2). Isso gera gratidão e humildade ao saber que tudo o que somos e o que temos e o que seremos e teremos vêm das mãos de Deus como dádivas imerecidas. Enfim, em vez da murmuração amarga de injustiça pelo invejo, há a celebração da graça soberana de Deus aos doar bênçãos imerecidas a quem ele quer.

(2) Contente-se com sua vida. Aprenda “a viver contente em toda e qualquer situação” (Fp 4:11b). Contentamento é a satisfação de desfrutar as dádivas de Deus. Enquanto o invejoso consumista considera que ser feliz é ter tudo o que seus desejos gulosos e insatisfeitos determinam, o discípulo de Jesus, contente com a vida que Deus lhe deu, intensamente deseja contente e grato tudo o que já recebeu de Deus como dádiva imerecida. Essa postura gera sempre alegria pela vida em adoração e louvor a Deus.

(3) Ame a vida. Amar é dar o melhor do que temos e o que somos em favor das pessoas. Quando amamos afastamos de nós todo desejo de desgraça ou planos malignos para destruir as pessoas alvos da inveja; e, ainda, cultivamos dentro de nós o desejo de sucesso pelas pessoas, tratando-as com “bondade, benignidade” (Gl 5:22). Isso vence todo “sentimento faccioso” (Tg 3:16), pois o amor “não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses...” (I Co 13:5). Quando realmente amamos o próximo não há um mínimo de espaço para inveja. Pois quem ama vive essas palavras de Jesus: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lc 6:31). Isso gera admiração pelo que há de bom no próximo, incentivo para que o outro seja bem sucedido e alegria “com os que se alegram” (Rm12:15a) para honra e glória de Deus.

Em Cristo, em quem temos a sabedoria de viver a vida sem inveja

Jairo Filho - Pastor da Igreja Presbiteriana Bonsucesso em Guarapuava-PR, Bacharel e mestrando em teologia, e licenciado em História.

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