Como se orientar no caos da conjuntura

24/05/2019 16H02

Caso o leitor ou leitora esteja com a sensação de “barata tonta” em meio à atual conjuntura do país, isso significa uma só coisa: você está com toda razão. Realmente a realidade brasileira não é para principiantes, e é para desvelar este caos aparente que esta Coluna Livre inicia hoje sua participação no GR+.  Antes de tudo, para que não sejamos taxados de ignorantes ou ingênuos, precisamos tomar algumas precauções. Nesta coluna de hoje vou iniciar por uma dica importante: para que a análise da realidade seja coerente é preciso que nela esteja presente o elemento da História.

Precisamos, para sermos cidadãos inteligentes na análise, explicar para nossos dialogadores (amigos, colegas de trabalho, familiares etc.) que tudo o que hoje ocorre tem uma história. Sem conhecer a história não conhecemos de verdade a conjuntura atual.

Vejamos um só exemplo para ilustrar. Não sei se você conhece o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Se não conhece indico fortemente (www.atlasbrasil.org.br). Lá você pode consultar pelo município que quiser. No caso quero falar de Guarapuava e a evolução histórica de alguns dados sociais. Eles oferecem os dados de 1991, 2000 e 2010. Claro que está defasado, afinal estamos em 2019. Mas quero apresentar algo para que possam construir um raciocínio lógico-histórico coerente.

O resultado mais óbvio na análise deste documento é que Guarapuava teve uma verdadeira revolução social a partir dos dados de 2000, e, por outro lado, demonstra como a cidade era muito, mas muito mais desigual nos anos 80 e antes.

Para se ter uma ideia, a renda média na cidade cresceu 90,13%  neste período de 20 anos, passando de R$394,52 em 1991 para R$583,96 em 2000 e R$750,09 em 2010. A evolução por ano foi maior entre 1991 e 2000 (4,45%) que entre 2000 e 2010 (2,54%). Ou seja, podemos avaliar em primeiro lugar que realmente a cidade, e o país, passou por um processo de mudança substancial neste período, o que demonstra o papel histórico da política recente, do Plano Real de FHC à política de inclusão social e de geração de emprego de Lula.

Mesmo assim, ainda tínhamos em 2010 cerca de 45,6% da população de 25 anos ou mais no município com apenas o Ensino Fundamental Incompleto e Alfabetizado, ou seja, quase metade da população de Guarapuava tinha uma condição de escolaridade muito abaixo do nível de cidadania que se deseja. Mas, no critério de historicidade, este índice era de 60,9% em 1991 e 58,2% em 2000. Ou seja, neste sentido os anos 2000 foram muito mais generosos com Guarapuava, afinal foi neste período que 12,6% conseguiram atingir o Ensino Fundamental, enquanto no período anterior de 1991 a 2000 apenas 2,7% tiveram este acesso ao Ensino Fundamental.

Com estes simples dados podemos começar a compreender a situação de nosso município e pensar se, historicamente, essa situação de subcidadania não se relaciona com a base econômica centenária de Guarapuava, pautada na economia primária, concentração de terras, falta de uma base industrial densa e tecnológica, concentração do poder político etc. Portanto, ao falar do cenário atual do município podemos utilizar estes dados do passado para melhor avaliar a situação em que vivemos. Essa foi nossa #dica1! História, tudo é História!

Que você, leitor ou leitora, tenha ótima semana.

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