Como as ligações perigosas da Lava-Jato nos vinculam?

17/06/2019 11H07

Sim, a Coluna Livre de hoje não poderia ser sobre outro tema: como e porque somos convidados a pensar nos vazamentos que o jornal The Intercept Brasil vem trazendo à tona sobre as relações entre o juiz Sérgio Moro e a Operação Lava-Jato.

Sabemos que a justiça brasileira ao longo do tempo tem sido uma justiça de classe, ou seja, ela não é tão cega quanto deveria ser ou parece ser aos olhos comuns. Vamos aos números, afinal não quero que acredite em mim: Temos cerca de 750 mil presos no Brasil, sendo que destes 35% são presos provisórios, ou seja, cerca de 260 mil presos não tiveram direito a um julgamento digno e conclusivo. Desta população carcerária, cerca de 65% são negros e muito mais que isso pobres. Logo, vivenciamos um sistema carcerário condizente com nossa situação de “colonialidade”, uma palavra difícil mas que significa que vivemos em uma situação em que são hierarquizadas pessoas de cor de pele negra, de classe social baixa, e de gênero feminino, situação esta derivada de nossa história colonial, que, apesar de ter acabado como fenômeno histórico e político, ainda sobrevive estruturando nossas relações sociais.

Pois bem, a justiça! Todos se apegavam à Laja-Jato como se devessem a esta operação o futuro de nosso país, e, mais, como se os “heróis” lavajatistas, donos da justiça, tivessem uma missão de “salvar” o Brasil e “limpar” a sujeira provocada pela esquerda. A colonialidade aí toma os traços fascistas! Sim, fascistas. E por que fascista? Simplesmente porque este tipo de ideia perpetrada pela Lava-Jato faz com que se crie uma divisão a mais na sociedade, além da clássica divisão de classe, raça e gênero: acresce a estas uma divisão entre as “pessoas de bem” e as que não são. Hierarquiza, assim, os que defendem uma sociedade boa, regrada, “de família” e os outros, a serviço do demônio comunista, que querem acabar com a família etc.

Pois bem de novo! Eis que a farsa cai por terra. A justiça, que nunca foi cega, agora mostra seus olhos latentes e eles revelam que existiu no Brasil uma operação política, travestida de Justiça, para prender um político, Luis Inácio Lula da Silva, e retirá-lo das eleições, o que é inclusive reforçado pela torcida religiosa de uma promotora, que não escondia suas predileções políticas ao realizar seu trabalho.

Mas, perguntam os e as leitores e leitoras desta humilde coluna: o que isso tem a ver comigo? Bom, resumidamente, se você é pobre, negro e mulher, isso pode ter muito a ver com você sim. Afinal, a Justiça brasileira tem muito mais propensão a te prender do que a brancos, homens  e ricos.

E mais, se fazem isso a Lula, que foi um dos mais importantes presidentes da República, o que já não estão fazendo com milhares de brasileiros anônimos, das periferias? E você, caro leitor ou leitora, estariam dispostos a serem as próximas vítimas de um sistema de Justiça comprometida com sua execução?

Lembremos o exemplo daquele que deu origem a uma de nossas mais importantes tradições. Daquele que foi crucificado sem culpa, por um sistema de Justiça nada cego. Lembremos ainda que exemplos como aquele ocorrido há 2019 anos se repetem todos os dias.

E você, o que tem a ver com isso? Saberá quando for a próxima vítima.

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