Com apoio de pesquisadores da Unicentro, bolsistas já estão atuando e ajudam a desafogar trabalho do Lacen

Eles poderão ajudar a Secretaria da Saúde por quatro meses, com possibilidade de extensão para oito meses

02/04/2020 11H00

O biomédico e farmacêutico Diogo Fanhani Silveira acompanhava em isolamento domiciliar e à distância as notícias do combate ao novo coronavírus no Paraná até meados da semana passada. Nessa quarta feira (1° de abril), depois de sete dias, ele já cumpria expediente como profissional do Laboratório Central do Estado (Lacen-PR), em São José dos Pinhais. A mudança tem nome e sobrenome extensos: Programa de Apoio Institucional para Ações Extensionistas de Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Coronavírus.

“Sou recém-formado e estava procurando emprego, em casa. E diante desse quadro de pandemia da Covid-19 deu vontade de ajudar, voluntariar, principalmente sendo profissional da saúde. Alguns familiares indicaram esse edital e agora já estou ajudando. É um trabalho bem intenso e gratificante”, afirma Silveira. 

Ele é um entre os 1.064 profissionais contratados com bolsas pelo Governo do Estado para todas as regionais da Saúde, postos de divisa rodoviária e o Laboratório Central, para dar mais reforço ao trabalho de combate ao coronavírus. O programa é inédito no País nesse segmento e envolve investimento de R$ 8 milhões.

Foi desenvolvido pela Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Secretaria da Saúde, Fundação Araucária, as sete universidades estaduais do Paraná e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Para a biomédica Vivian Cristiane Monteiro Pereira, doutoranda em farmacologia, essa temporada de trabalho no combate ao novo coronavírus é uma oportunidade de devolver à sociedade todo o conhecimento acumulado em uma universidade pública.

“É uma rotina cansativa, mas gratificante. Minha formação foi pública, o mínimo que posso fazer nesse momento é devolver a ajuda. Alguns colegas indicaram o link e o edital, e está dentro da minha área, o interesse foi imediato. É importante contribuir nesse momento”, destaca.

A biomédica e bolsista Beatriz Kochem Martin tem especialização em reprodução humana e não titubeou quando o edital foi lançado. “É uma rotina bem corrida, estamos nos adaptando, mas é muito interessante. Abre diversas possibilidades para aprender novas técnicas. Para um profissional da saúde é bom para contribuir nesse momento de crise”, destaca.

O Lacen já conta com oito bolsistas e nas próximas semanas mais dois serão chamados para complementar o quadro e possibilitar alternâncias nos turnos, uma vez que o laboratório ampliou seu horário de funcionamento (das 7h às 23h). Eles poderão ajudar a Secretaria da Saúde por quatro meses, com possibilidade de extensão para oito meses.

TRABALHO 

No Lacen, os bolsistas estão encarregados de ajudar na gestão administrativa dos exames que chegam de todos os municípios do Paraná, nas fases de pré e pós laboratorial. O laboratório faz 600 testes por dia e é um dos responsáveis pelo fornecimento de dados para a elaboração do boletim epidemiológico. O documento é divulgado diariamente e serve como termômetro da circulação viral no Estado.

Os bolsistas desafogaram os trabalhos administrativos dos biólogos moleculares que trabalham diretamente dentro dos laboratórios. Segundo a diretora-técnica do Lacen, Irina Riediger, o reforço foi pontual.

 “É um laboratório bem montado, um dos melhores do País, mas que precisava de mais profissionais nesse momento. Fizemos a seleção das pessoas e eles passaram por uma acolhida sobre os cuidados de segurança, que são peculiares para esta abordagem, para este tipo de exame”, afirma.

A rotina dos bolsistas segue uma lógica que permite que o Lacen divulgue em até 72 horas se o material coletado apresenta indícios do vírus ou não. “Fazer um exame não é simplesmente receber a amostra, abrir o tubinho e colocar em uma máquina. Existe uma série de trâmites burocráticos antes da amostra entrar no laboratório e depois que o resultado ficar pronto”, explica Irina.

“A fase pré-analítica envolve abrir as caixas, verificar o cadastro, as requisições, atribuir numeração, organizar os tubos, transportar entre os setores, protocolos. A pós-analítica envolve interpretação dos controles internos de qualidade, ajuda nos controles externos, planilhamento, acompanhamento, arquivamento”.

No caso de suspeita da Covid-19, cada uma das amostras é submetida a vários testes. A pesquisa envolve os seis vírus que mais circulam, comparando dados e informações de anos anteriores, mais o teste para a identificação do novo coronavírus.

 “O teste padrão ouro, o RT-PCR, é muito minucioso. Tem muitas etapas artesanais. Envolve abertura das caixas, transferência de tubos, processamento para extração do RNA, montagem e distribuição dos insumos usados para fazer o exame, termociclagem, que é o exame em si, análise e reanálise, digitalização e liberação dos resultados”, acrescenta Irina. “Com uma amostra esse processo demora 24 horas. A nossa rotina atual é de 600 testes por dia”.

MAIS FUNCIONÁRIOS 

O Governo do Paraná reforçou em mais de 20% o quadro de profissionais do Lacen. O número de funcionários deve chegar a 73 com o ingresso de dez bolsistas, dois profissionais temporários e um profissional que virá de um convênio com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas-Brasil). Os bolsistas foram alocados para as fases pré-analítica e pós-analítica e ajudaram a desafogar os trabalhos administrativos, que antes eram executadas pelos biomédicos que trabalham nos laboratórios.

A diretora-geral do Lacen-PR, Célia Fagundes Cruz, destacou que o reforço no quadro funcional ajuda a manter o compromisso de 600 exames por dia e prazo de 72 horas de resultado. “Foi uma medida fundamental para dar agilidade aos exames. Estava ficando inviável manter essa rotina. São 600 exames de biologia molecular, que é um processo complexo, que exige muitas etapas”, arrematou.

BOLSAS - A primeira etapa do Programa de Apoio Institucional para Ações Extensionistas de Prevenção, Cuidados e Combate à Pandemia do Coronavírus disponibilizou 796 bolsas em dez regionais de saúde e a segunda complementou 268 em outras 12 cidades do Estado.

As primeiras foram para técnicos de laboratório e enfermagem, farmacêuticos, enfermeiros e médicos. Os bolsistas já começaram a atuar sob supervisão da Secretaria da Saúde auxiliando no atendimento em centrais de informações, nas divisas rodoviárias, nas unidades de saúde, hospitais e outros estabelecimentos da área, junto ao Lacen e ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs). O segundo edital atende também o sistema penitenciário.

PROJETOS

Os projetos extensionistas de combate ao coronavírus foram elaborados por pesquisadores em diferentes áreas do conhecimento das universidades estaduais de Londrina (UEL), Maringá (UEM), Ponta Grossa (UEPG), Centro-Oeste (Unicentro), Oeste do Paraná (Unioeste), Norte do Paraná (Uenp), Estadual do Paraná (Unespar) e Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“Unimos a qualidade dos nossos pesquisadores, profissionais e estudantes da área da saúde em prol do mesmo objetivo. Pela capilaridade das nossas universidades estaduais, a iniciativa possui uma grande abrangência em todo o Estado, permitindo que atendêssemos as 22 regionais de saúde, possibilitando o enfrentamento da pandemia de maneira ampla e imediata”, destacou Aldo Bona, superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. “É um aporte adicional de profissionais e estudantes para atender o Estado”.

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