As quadras...

* Por Mauro Biazi

06/07/2024 11H18

* Por Mauro Biazi

Em Guarapuava eram poucas as quadras esportivas nos anos 1960. Guaira, Banco do Brasil, Bombeiros, Lagoa, Operário e a da Rodoviária, a mais concorrida delas.

Praticantes de esportes eram poucos, e diminuto também era o público para assistir os aficcionados de basquete, vôlei e salão, as modalidades mais praticadas da época.

Quando a noite chegava, e sem nada pra fazer além de se aboletar em arquibancadas duras e geladas, quando no inverno poucos gatos pingados prestigiavam os chutes, arremessos e cortadas de atletas amadores.

A quadra do Banco do Brasil, com meia dúzia de luminárias de poucas velas, existia onde se situa a agência atual, na Senador Pinheiro Machado. Acesas ou apagadas, a iluminação proveniente delas dava quase no mesmo, um breu só. Era fundos do Bar do Carazzai, onde ônibus da Sulamericana e Pluma faziam ponto.

No Cube Guaira a prática esportiva acontecia na quadra que hoje seria onde está localizada a escadaria que dá acesso ao salão de eventos. Alí, à noite ou nas tardes de sábados, o Blue Star, masculino e feminino, fazia seu treinamento de basquete para enfrentar alguma equipe de cidades vizinhas.

Na S.O.R.B. Sociedade Operária Recreativa Beneficiente, uma quadra no fundo do clube recebia a piazada que gazeteava aulas e, em dias de chuva, com o piso mais liso que cabelo com Glostora, provocava muitos tombos, o que era dífícil explicar pros pais quando voltava pra casa onde ralara os joelhos.

A quadra da Lagoa, esquina da Becker com a Xavier da Silva, tinha como piso uma manta asfáltica, local em que litros de mertiolate e tubos de anaseptil em pó foram usados para arrefecer os dodóis dos atletas.

O Corpo de Bombeiros, distante para um par de pernas de criança, tinha a sua quadra com iluminação melhorada e, vez em quando, se permitia o uso aos moradores da cidade. Muitas noites por lá, sem nada a fazer, assistindo os amigos pelejando atrás da redondinha.

Na Comissão, DER, onde hoje está instalado o SESC, a sua quadra foi palco de inúmeras partidas de salão. Porém, o que nos atraia até lá nas tardes modorrentas eram as filhas dos funcionários...cadê você, Maritza?

Já a quadra do quartel, e por conta dos tempos sombrios pós-64, era usada pela soldadesca e, raramente, por civis próximos do comandante Uzeda. Outra com piso sofrível que, ao final do jogo, era possivel avistar marcas de sangue de algum descuidado atleta.

A do CTG, construída na lateral do clube, era para quando a gauchada não estava riscando o chão com esporas nas noitadas fandangueiras. Usada pelos associados, mas também acessível a boa parte da população local, a lembrança dela é de um torneio entre alunos de Guarapuava e os estudantes da capital.

Famosa, e citada inúmeras vezes na nossa série de crônicas, a icônica quadra da Rodoviária era onde tudo acontecia. E entre chutes a gol, arremesso de 3 pontos e cortadas junto a rede, os frequentadores assistiam brigas, ouviam palavrões, namoravam, paqueravam, conversavam todos os assuntos do dia...e na feira ao lado, que funcionava de manhã, os restos de frutas e legumes à tarde serviam para batalhas entre Tarefa, Ivonei, Cabeleira, Taco, Aguiar...eu.

Eu, por minha vez, sem muitos atributos esportivos só restava assistir e, vez ou outra, entrar no lugar de algum machucado já que não havia mais ninguém presente e, invariavelmente, no gol, lugar dos pernas de pau.

(Outras centenas de crônicas como esta no livro Era uma vez...em Guarapuava. Preço: 50,00)

Mauro Biazi

Mauro Xavier Biazi, jornalista/escritor/fotógrafo/promotor de eventos culturais/ gastronômicos, e uma infinidade de outras atividades, usa das palavras para rascunhar recortes de uma vida de tantos feitos e fatos.

Deixe seu comentário:

Veja Mais