Nunca mais...

* Por Mauro Biazi

09/08/2024 12H08

* Por Mauro Biazi

...os cadernos e dicionários da Fename, vendidos pela prestativa amiga Ione que atendia a todos com simpatia e cordialidade, alí na Capitão Virmond quase esquina com a Manoel Ribas;

Nunca mais a cerimônia de inauguração do monumento ao sesquicentenário da Independência, na Praça Cleve, no ano de 1972, numa manhã bonita de sol e convidados bem vestidos;

Nunca mais a carne do açougue do Valmor, disputada pelas donas de casa no preparo do almoço de domingo, alí na Getúlio Vargas;

Nunca mais aquele corte de organza da Casa Brasil pras costureiras capricharem em vestidos de daminhas e debutantes do suntuoso Guaira;

Nunca mais um cartaz de filme da próxima semana, sempre lançamentos aguardados contando os dias, na frente do Cine Jeanne, alí na Vicente Machado.

Nunca mais o batuque com sua flanela de um engraxate dando aquele brilho num Samello novinho com o cliente pedindo todo cuidado pra não sujar a meia Lupo;

Nunca mais uma competição com os botes de madeira, de casco furado, na Lagoa das Lágrimas, cuja aposta dava ao ganhador o direito de jogar o perdedor na água nada saudável;

Nunca mais o relógio do estúdio da Radio Atalaia orientando o Amazoninha a dar a hora de almoçar na Churrascaria do Carequinha, até o dia que sumiram com o dito cujo e o locutor soltou no ar a famosa frase: "Quem foi o fdp...que tirou o relógio daqui."

Nunca mais unhas afiadas a extrair nersoso e ansiosamente a rolha da tampinha de uma Pepsi para, com o coração na boca, torcer que estivesse impressa o desenho de um fusca zero quilômetro;

Nunca mais aquela inesquecível bala Déa amorosamente ofertada a quem guardara um lugar a ser ocupado após o apagar das luzes de uma sessão de cinema;

Nunca mais os irmãos do Globo da Morte do Circo Garcia elevando a tensão na platéia quando acionavam suas motos e o ruído era ensurdecedor, mas o nervosismo nosso superava todos os decibéis que elas produziam;

Nunca mais o apito de uma serraria despertando a cidade, indicando que era hora de tirar as ramelas dos olhos e sair pro limpo, com os pais lembrando que a vida só era dura para quem era mole;

Nunca mais a imperdível saída das meninas do Carneiro Martins, 5 e meia da tarde, todos sentados em frente a Fornecedora de Parafusos. Quem tinha dinheiro saboreava o inesquecível milk shake que o Valdemar Picão preparava na sua lanchonete.

Nunca mais...a banana split do Thomasi, a mesa de sinuca da Cabana, a gravata borboleta do garçom Nelson Gato, a simpatia do Caruncho, a sisudez do Antenor Sprenger, a seriedade das irmãs Pimpão na bilheteria do Cine Guará, aquela bola que o goleiro Levis de mão trocada defendeu no ângulo...e nunca mais tantas coisas.

(Outras centenas de crônicas como esta no livro Era uma vez...em Guarapuava. Preço: 50,00)

Mauro Biazi

Mauro Xavier Biazi, jornalista/escritor/fotógrafo/promotor de eventos culturais/ gastronômicos, e uma infinidade de outras atividades, usa das palavras para rascunhar recortes de uma vida de tantos feitos e fatos.

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